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O MUNDO EM COLAPSO
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A coluna sempre trouxe uma historinha hilária na abertura. Ante a escalada de medo e violência dos últimos tempos, este analista decidiu suspender a "graça" para ajustar o texto ao espírito do tempo. Mas insistentes pedidos fazem retornar os "causos". Vez ou outra, eles abrirão a coluna.
A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação: a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam:
- Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo?
- O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade.
- Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD.
O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão.
(A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice).
Avaliação do governo
O método é de Carlos Matus, cientista político chileno. Ele é o criador do Planejamento Estratégico Situacional, um modelo que surgiu da reflexão sobre a necessidade de aumentar a capacidade de governar. E que avalia o desempenho de uma administração pela somatória de quatro campos de viabilidade: o político, o econômico, o social e o organizativo. O equilíbrio entre eles é responsável pela fortaleza ou fragilidade das ações programáticas. Procuremos fazer breve leitura do governo Lula sob esses quatro cinturões.
As coisas não acontecem
O governo Lula III acumulou, desde a posse, força descomunal, a partir da reposição da imagem do país na paisagem internacional, mas não tem sabido transformá-la em ferramenta de eficácia da gestão. A administração tem deixado escapar, aos poucos, a condição de usar o poder como "capacidade de fazer com que as coisas aconteçam", como ensina Bertrand Russell. Basta analisar os furos exagerados em pelo menos três desses cinturões.
Tensões na área política
A área política é um território semeado de tensões e pressões, que têm levado à instabilidade. A base governista, de cujo apoio o governo tanto necessita para aprovar projetos e medidas provisórias, constitui um aglomerado de grupos heterogêneos, envolvidos em querelas. Cada partido, seja do Centrão, seja da esquerda, quer ganhar uma fatia maior do bolo. O ponto central, ainda não internalizado pelo governo, é o de que seu governo não se assenta no conceito de coalizão, mas na moeda fisiológica da adesão, o que torna frouxos os elos com as estruturas partidárias.
O balcão
Não se estabeleceu, desde o início, um pacto de longa duração. Os acordos ficam sujeitos ao gosto das circunstâncias, propiciando a negociação no balcão da fisiologia. Será tarefa quase impossível consertar um erro de origem, ainda mais quando se vê no comando da Câmara um perfil de forte tradição fisiológica. O território social não passa de paisagem devastada pela improvisação. Onde estão as políticas públicas para equacionar o déficit nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana, segurança pública? Se existem, o governo falha na comunicação.
A gestão com congestão
No cinturão gestão, da organização administrativa, a observação é de que é frágil para abarcar um corpo governamental muito gordo. Ministérios incham a máquina do Estado. Milhares de servidores exibem como qualidade a carteira de filiação partidária. Com o nivelamento por baixo, a burocracia emperra. Os gastos públicos têm obedecido ao patamar do teto de gastos aumentado em proporção geométrica. Para que formar 38 (ou 39?), se apenas 15 a 20 dariam melhor resposta às demandas nacionais? E que eficiência se pode esperar de um ministério que é uma colcha de retalhos, com partes esburacadas, como as que abrigam ministros sob suspeita, envolvidos em escândalos, gente sem competência gerencial, quadros que vivem em torno de uma Torre de Babel?
A malha de transportes
Como um país se dá ao luxo de ver uma parte de sua safra perdida por causa da péssima condição das estradas? Como se pode deixar cair no ralo dezenas de bilhões por ano em razão da calamidade do sistema viário?
O cinturão econômico
O cinturão econômico, esse sim, parece bem ajustado. Trata-se de uma área que navega pelo piloto automático. O ministro Fernando Haddad, apesar de prometer zerar o déficit público, ganhou apoio do mercado. Mesmo assim, é passível de críticas. Em que o superávit primário do PIB contribuirá para aumentar o emprego? O desemprego diminui, mas tem base para suportar os gastos governamentais? O arrocho tributário alcança patamar nunca visto. Ficaremos com 27% de tributação na reforma tributária? Mesma coisa de hoje. Com essa gama de interrogações, o sinal amarelo prenuncia que os cordões do governo poderão, logo, logo, se romper.
A imagem do Brasil
O governo Lula vai bem na área da imagem externa. O país conseguiu repor sua imagem na galeria das Nações respeitadas. Imagem destroçada pelo governo Bolsonaro. Com suas viagens, Lula reconquistou a posição de credibilidade do país. P.S. A maioria da população não aprova sua agenda internacional, segundo institutos de pesquisa.
Raspando o tacho - Notinhas sobre a conjuntura
Fecho a coluna com uma pitada de riso.
Precisamos trabalhar
O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca (Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio:
- Brasileiros, precisamos trabalhar!
Do meio do povo, uma voz poderosa gritou:
- Ih, já começou a perseguição!
Bagunça geral. O comício quase acabou.