O Brasil está à procura de um herói. Mas o herói procurado não é aquele capaz de operar milagres, um São Jorge de espadas, disposto a matar os dragões da maldade. Quem vestiu esse manto, em tempos idos, acabou sendo eleito presidente da República, mas foi tragado pelo tufão social, que puxou seu impeachment, a partir de uma maré de denúncias e escândalos trombeteados pela mídia.
De lá para cá, a sociedade tomou um banho ético. Vacinou-se. E passou a desconfiar de perfis milagreiros. Por isso, o herói que o povo procura precisa ter face humana. Uma face plasmada pelos valores da honestidade, ética, autoridade, respeito, coragem, despojamento, simplicidade.
Há alguém com esse perfil? Quem se arrisca a apontar algum? A nossa galeria de heróis é uma parede vazia. O atual dirigente do país já não ganha os aplausos das massas como no passado. Os pastores nas igrejas não conseguem empolgar multidões. Os fiéis estão atentos aos golpes demagógicos. No futebol, as decepções se acumulam. A seleção de futebol já não encanta. Neymar perdeu o brilho. Mas continua no trajeto do dinheiro. Os esportes estão marquetizados. As disputas são movidas pela força do metal. E o glamour se esvai dos palcos e estádios, sufocando nossas emoções. As seleções femininas são, agora, o toque de novidade.
Aqueles que merecem aplausos unânimes estão enterrados no cantinho da saudade. Ayrton Senna foi um dos nossos heróis. Pelé nos deu adeus. A lembrança aponta alguns. Tancredo nem teve tempo de dar fulgor à imagem. Recebeu o pranto nacional, foi uma perda para nossas esperanças. Juscelino Kubitschek levantou nossa bandeira de progresso. Quem mais? Vultos de nossa história mais antiga. A geração de passagem não exibe estrelas brilhantes que mereçam destaque na constelação.
Arraes, Brizola, Covas, Itamar, Sarney, Fernando Henrique, cada um carrega alguns traços, mas foram nivelados pela mesmice. Posicionamentos mais fortes acabaram ofuscados pelo processo de canibalização recíproca dos perfis.